segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Liturgia celebrada pelos primeiros cristãos



Inicialmente, as primeiras comunidades cristãs não estavam totalmente estruturadas. Os bispos e diáconos são mencionados de passagem e não se sabe ao certo as funções que eles exerciam. Alguns textos do novo testamento como em Hebreus 5,1-4 relatam a figura do sacerdote, mas não os especificam como representantes oficiais padres ou vigários. Conforme os relatos encontrados na Didaqué, espécie de catecismo dos primeiros cristãos, as comunidades viviam em perene clima familiar, onde tudo era repartido em comum e demonstravam claramente que reconheciam todas as coisas como graça e dom de Deus.



É visível nas primeiras comunidades o medo de se confundirem com o meio pagão predominante na sociedade da época. Trata-se de uma comunidade nascente que ainda está descobrindo sua vocação, e aos poucos caminham para o sentido cristão do não-individualismo e da certeza em que todos os setores da vida humana devem ser penetrados com a palavra de Deus e a vivência do evangelho, a boa nova de Jesus Cristo.

Nesta perspectiva, a Liturgia dos primeiros cristãos é muito simples e de caráter comunitário e doméstico. Os Sacramentos de iniciação cristã parecem ser administrados pela comunidade e não necessariamente por um único membro, sacerdote ou diácono. Esta ocasião remete novamente ao caráter inicial das primeiras comunidades cristãs que caminham aos poucos para sua real vocação.

Existem alguns aspectos litúrgicos que a Didaqué evidencia acerca de como preparar e proceder a um ritual litúrgico. Para o Batismo, o antigo rito pede: água corrente, se não houver água corrente seja feita em outra água. Se não puder batizar em água fria seja batizado em água quente. Se não houver um ou outro, faça derramando três vezes a água na cabeça, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As recomendações para a celebração da Eucaristia eram: Digam primeiro sobre o cálice: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da santa vinha do teu servo Davi, que nos revelastes por meio do teu servo Jesus. A ti a gloria para sempre”.  Depois digam sobre o pão partido: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da vida e do conhecimento que nos revelastes por meio do teu servo Jesus. A Ti glória para sempre”. Do mesmo modo como esse pão tinha sido semeado sobre as colinas, e depois recolhido para se tornar um, assim também a tua igreja seja reunida desde os confins da terra no teu reino, porque tua é a glória e o poder, por meio de Jesus Cristo para sempre. Ninguém coma e nem beba da Eucaristia, se não tiver sido batizado em nome do Senhor, porque sobre isso o próprio Senhor disse: “não deem as coisas santas aos cães”.

Destaca-se nesse modo primitivo litúrgico que a Eucaristia era já para os primeiros cristãos o sinal de sua unidade. O texto ainda deixa evidente que a Liturgia da Eucaristia era celebrada dentro de uma refeição comum, que poderia ser unicamente participada pelos cristãos batizados, isso é, por aqueles que haviam se comprometido com a causa do evangelho e as suas respectivas instruções de vida.

A Didaqué ainda ressalta a celebração dominical e dá elementos que são observados até hoje no modo de celebrar a Eucaristia: Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessados os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro. Aquele que está de briga com seu companheiro, não poderá juntar-se a vocês antes de ter reconciliado, para que o sacrifício de vocês não seja profanado. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo o lugar e em todo o tempo, seja oferecido um sacrifício puro, porque eu sou um grande rei, diz o Senhor, e o meu nome é admirável entre todas as nações”.

Evidencia-se aqui que a Eucaristia é uma celebração de fraternidade. Para não ser profanada no seu aspecto mais profundo é necessária a reconciliação. Neste ponto, é claro a semelhança com nosso modo atual de celebra a Eucaristia. Vemos o ato penitencial com uma profunda importância para as primeiras comunidades cristãs e ainda como uma obrigatória condição para se reunir e celebrar a fração do pão, a Liturgia Eucarística.

A Reconciliação é por tanto, uma condição para a vida cristã na sua totalidade, e não só para a celebração da Eucaristia, mas também para que a vida concreta tenha um sentido cristão autêntico e se tornasse uma verdadeira missão pelo testemunho e exemplo de vida simples e alegre da comunidade.

Por fim, evidencia-se na Liturgia da igreja nascente a característica da simplicidade e do compromisso com a causa do evangelho, que ainda permeia e modela o modo de ser e agir destas mesmas comunidades que aguardavam veementemente a Parusia. A celebração do Batismo já impõe caráter e responsabilidade desde o início do cristianismo e a Reconciliação se torna condição para dar real sentido na celebração da fração do Pão. Não há exagero em dizer que a celebração da Eucaristia de hoje é a celebração da Eucaristia de sempre, pois reúne em si os elementos principais que formavam as primeiras comunidades cristãs e das quais se alimentavam e tomavam conhecimento de sua real vocação.

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